Sou uma apaixonada por Itália e desde a lua-de-mel que a vontade de voltar a Veneza era muita. Desejava percorrer as suas ruas estreitas e que não se sabe bem onde vão dar, descansar nas numerosas praças, espreitar os pátios e observar os estendais virados para os canais nas zonas menos turísticas. E ansiava sobretudo pelo cair da noite, quando as ruas ficam desertas e Veneza é só nossa.
O regresso foi feito com a minha irmã J. para ela ir visitar a sua amiga I. (obrigada pela companhia e pela estadia) e porem a conversa em dia. Partimos do Porto com pouco mais do que uma mochila e a máquina fotográfica. Além das fotografias trouxemos connosco o cansaço de uma visita relâmpago e a promessa, feita numa Piazza San Marco vazia, de um dia voltar com mais tempo. Quando isso acontecer quero andar sem pressas no Mercado do Rialto, perder-me por um dia na zona leste do sestiere de Dorsoduro e quem sabe andar de gôndola...
Para a minha irmã viajar significa lojas e recuerdos, mas para mim significa passear tranquilamente pelas ruas, parar numa esplanada para uma bebida, passear pelas praças, descansar num jardim, andar pelos mercados e comer gelados. E nenhum sítio é melhor para isso do que Itália, pena termos descoberto que em Veneza a maioria das gelatarias artesanais está fechada entre o dia de Reis e o Carnaval. Foi este facto que nos levou ao Dorsoduro, um dos lugares mais genuínos de Veneza.
Depois duma refeição desastrosa num restaurante gerido por chineses, mas disfarçado de trattoria tradicional, tudo o que eu queria era um bom gelado. Estávamos no sestiere de Santa Croce e a gelataria Alaska ficava perto, só que quando lá chegámos estava fechada. Após uma consulta rápida ao guia que levávamos e que tinha algumas indicações tiradas da internet, apanhámos um vaporetto para Záttere para irmos à gelataria Nico. Porém, ao vermos os toldos azuis da gelataria reparámos que esta também estava encerrada. Na parede tinha um papel que informava que abririam na segunda-feira seguinte, se tivessem vontade (voglia). A coisa não estava a correr bem e eu continuava sem gelado.
O povo diz que "Deus dá com uma mão e tira com a outra", no entanto a nós aconteceu exactamente o contrário. Tirou-nos a Alaska e a Nico mas deu-nos o que mais nos marcou pela positiva nesta viagem, o Squero di S. Trovaso, local onde são recuperadas as gôndolas e, virando à direita para a Fodamenta Nani, a gelataria Lo Squero. A gelataria não nos conquistou logo e ainda tivemos vai não vai para não entrar, mas como eu precisava mesmo dum gelado decidimos entrar. E ainda bem que o fizemos. Os gelados eram muito bons e descobrimos que a gelataria é frequentada pela Angelina Jolie nas suas idas à cidade. Os sabores variam conforme a época e são confeccionados de forma artesanal. É verdade que a loja não tem lá grande aspecto, mas quem vê caras não vê sabores, e eu deliciei-me com uma bola de pêra e outra de avelâ.
Quando cumprirmos a promessa feita numa noite fria e voltarmos a este bocado de Itália quero visitar a Galeria dell'Accademia, onde é possível apreciar a pintura veneziana do séc. XIV ao séc. XVIII, o Palazzo Venier dei Leoni, que alberga a colecção de arte moderna de Peggy Guggenheim e, na foz do Grande Canal, a Chiesa di Santa Maria della Salute, obra-prima da arquitectura dedicada à S. Maria della Salute depois desta ter libertado os venezianos da peste de 1630. A seguir à visita a estas três pérolas do Dorsoduro faço tençao de contornar a Punta D. Dogma, onde se encontram os armazéns da outrora alfândega marítima, e iniciar uma longa caminhada pela Fondamenta Záttere que me vai levar de novo ao cantinho mais pitoresco de Veneza, o Squero di S. Trovaso e à gelataria Lo Squero para saborear um gelado enquanto descanso num dos mais belos jardins da Sereníssima, por trás da Chiesa di San Trovaso.
Até que esse dia chegue vou continuando a sonhar com mais um Inverno em Veneza...