Lá fora o fogo de artifício anuncia o fim das festas em honra de São Gonçalinho, uma romaria que dura cinco dias e se realiza no fim-de-semana mais próximo do dia 10 de Janeiro, dia em que se comemora a morte do santo. Sei que não se escolhe o dia em que se morre, mas bem que o santinho podia ter morrido mais perto da Primavera, quando o frio junto à ria é mais fácil de suportar...
O santo é casamenteiro, ajuda na fertilidade e protege na saúde. A mim houve um desejo que me escapou nas passas de fim de ano e por isso ontem fui lá pedir-lhe uma ajudinha... Se o "nosso menino", como é carinhosamente tratado pelas gentes da beira-mar, cumprir com a sua parte do nosso acordo, para o ano lá subirei a escada de caracol, que leva ricos e pobres até à cúpula da capela de São Gonçalinho, para de lá serem feitos os arremesos de cavacas, como pagamento das promessas ao santo. As cavacas, duras como cavacos de madeira, representam o pão lançado pelo santo aos pobres e os sinos da capela anunciam os lançamentos, aguardados pacientemente pelos populares, munidos de camaroeiros e guarda-chuvas invertidos.
Dizem que as cavacas lançadas para o chão estão abençoadas e devem ser guardadas durante um ano, para obteres protecção. Como é óbvio, cá em casa este é um feito impossível, já que o Miguel dá logo cabo delas, obtendo protecção imediata para a sua barriga.
A festa, que une todos os aveirenses, é muito mais do que uma oportunidade para cumprir as promessas feitas ao santo, e por estes dias nem as montras do comércio tradicional escapam aos festejos, "vestindo-se" a rigor com o santo e as cavacas.
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