terça-feira, 30 de abril de 2013

Scones

Margarida aproxima-se de Constança e segura-lhe as mãos. Não se apoquente, menina, a vida de um casal é muito difícil, mas a solidão é bem pior, a solidão é uma noite muito longa e luz que já não volta. Olhe que sofrer é como respirar, se estivermos sempre a pensar nisso parece que não há mais nada, mas se nos esquecermos a vida segue sem darmos por ela. Ainda mais nós, que somos mulheres, ó menina, a dor é pão que nós comemos.
Constança dá um beijo a Margarida e agradece-lhe, não concorda com as palavras mas são bonitas e sinceras. Margarida é uma boa mulher, uma mulher-mãe que nunca o foi.
Nuno Camarneiro/ Debaixo de algum céu
Fosse toda a dor um scone comido a dois e seria menor a amargura no mundo.
Para 20 a 25 scones
- 100 ml de leite, mais um pouco para pincelar
- 200 ml de natas
- 1 ovo
- 3 c. de sopa de açúcar
- 4 chávenas de farinha (com fermento, aliás toda a farinha referida no blog é com fermento)
- 1 pitada de sal
1. Pré-aquece o forno a 220ºC.

2. Numa taça bate o leite, as natas e o ovo, até obteres uma concistência aveludada. Junta o açúcar, a pitada de sal e uma chávena de farinha de cada vez. Entre cada adição de farinha mistura a massa.

3. Coloca a massa numa superfície enfarinhada e amassa-a ligeiramente, até formar uma bola. (É extraordinária a leveza da massa e a sensação que tens ao amassá-la!) Sem pressionares muito, estende a massa numa espécie de círculo com 2 cm de espessura. Corta círculos usando um copo ou um cortador de pastelaria, pressionando o cortador ma sem o torcer. Alinha-os, juntinhos - para se apoiarem uns aos outros enquanto crescem, num tabuleiro de ir ao forno coberto com uma folha de papel vegetal.

4. Pincela o topo com leite e leva os scones ao forno, no nível superior, durante 12 a 15 minutos. Quando estiverem douradinhos retira-os do forno. Serve-os quentes, com chá, acompanhados de doce, manteiga e uns dedos de conversa entre amigas ou com a tua mãe, no dia que é só dela!

domingo, 28 de abril de 2013

Raia Confitada em Azeite, Tomate Seco e Alperces

O ruído branco do mar àquela hora, areia no chão e nos olhos, uma doideira de velho aquilo, um último objecto, uma falta dele. Não redes, nem cordas, nem paus, nem vidros, outra coisa. Passos ainda, o Sol a levantar-se, perdido ele também, esforçoso por chegar às pessoas. Moço descendo à espuma à cata de brilhos, as mãos agarram água e espalham-na na cara, para que veja, para que melhor encontre. Que ideias as de um homem, que som manco esse, que coisa?

A sirene do farol soa três vezes, cuidado aos barcos e a quem neles segue. Cuidado a ti, velho, que cais ao mar e por lá ficas. A água entra pelas botas e frio, Moço pensa em voltar, mas segue ainda, os olhos vão em perguntas de pés atrás, só mais um pouco e finalmente encontra.

É um rectângulo negro aumentando nos cantos, liso e brilhante, como um besouro grande. Moço pega-lhe e lava-o de areias, é um ovo de raia, uma coisa rara e bela e estranha. Pode voltar e terminar a máquina, já nada falta para que espante.

Nuno Camarneiro/ Debaixo de algum céu

Os passos para a confecção desta receita são simples, mas é preciso estares atento a cada pormenor. O azeite que resulta da cozedura da raia é impressionante e compensa a demora do prato!

Para 4 pessoas (Portugal, O Melhor Peixe do Mundo)
- 1,2 kg de asa de raia, limpa e sem pele
- azeite virgem extra
- 3 dentes de alho laminado
- 2 tomates secos, em óleo de girassol, picados
- 50 g de alperces secos, cortados em tirinhas
- 75 g de azeitonas verdes, cortados em rodelas finas
- sumo de 1 limão
- sal
- 1,5 molhos de espargos

1. Pré-aquece o forno a 150ºC.

2. Num tabuleiro de ir ao forno tempera a raia com sal e sumo de 1/2 limão. Numa frigideira aquece bem o azeite e salteia o alho, os tomates secos, os alperces e as azeitonas. Rega a raia com este molho e acrescenta mais azeite até cubrir a raia até meio. Leva ao forno, com a tampa durante cerca de 20 minutos ou coberta com folha de alumínio durante 1 hora. A meio da cozedura vira as asas de raia. Assim que a raia esteja cozinhada, desliga o forno e reserva o peixe dentro do azeite, enquanto tratas dos espargos.

3. Aquece bem um grelhador. Apara a parte mais fibrosa dos espargos, dobrando-os e partindo por onde quebrarem. Numa taça tempera-os com sal, sumo de 1/2 limão e azeite. Leva os espargos a grelhar 3 minutos de cada lado.

4. Dispõe os espargos no prato, cobre com a raia e rega com o azeite da cozedura. No final da refeição aproveita o azeite aromatizado que fica no prato, molhando nele o pão.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Mercado da Costa Nova

Há duas estradas que levam ao mercado: a marginal, de onde se vê o mar pelos intervalos de dunas e edifícios, e uma paralela, que atravessa praças e condomínios mal projectados. É por esta que segue Daniel, porque acordou frágil de tanto sonho, porque não está pronto para azuis infinitos.
Na rua conhecem-no e cumprimentam-no com simpatia. As senhoras são gentis e sorriem muito, algumas atrevem-se em piropos, os homens são formais, os velhos levantam as boinas enquanto os jovens inclinam cabeças e sorrisos desconfiados.
Daniel circula por entre as bancas do mercado e escolhe coisas simples e boas. Vive com pouco dinheiro e gosta que assim seja , porque o obriga a escolher e decidir. Toca as cebolas e as laranjas, cheira-as e por vezes as vendedeiras dão-lhe alguma a provar.
Vai até às bancas do peixe e a senhora chama-o lá de longe, ele aproxima-se e ela dá-lhe uma saca com peixe dentro, Chamo-me São, se gostar dos bichos reze pela minha alminha. Ele sorri-lhe e diz-lhe que esteja descansada, se o peixe for fresco não há alma que se não salve.
As mulheres são espertas de viver, pensa Daniel, sempre foram. Deixam aos homens a manutenção do sagrado, os ritos e as palavras com que se fala a Deus, mas é a voz delas que fala na sua, são seus os rogos e graças, só elas Lhe sabem falar a modo.
Daniel volta depois pelo lado da água. Vêem-se alguns raios de sol e sente-se o frio a voar. O areal de pescadores a dançar com o mar, três passos para lá, a cana em arco, três passos para trás. São todos homens na praia, em casa as mulheres cozinham ou tratam dos filhos. Para elas são os peixes que lhes pescam os maridos.

Nuno Camarneiro/ Debaixo de algum céu

A par do mercado das Caldas, este é o nosso mercado preferido! Nele encontras quase tudo o que precisas para confeccionar maravilhosas refeições de peixe.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Bolo de Chocolate

Um prédio chegado à praia e um Inverno pesado e frio, de cobertores húmidos e doenças nos pulmões que silvam ao respirar. O mar ouve-se de bravo e, quando não é o mar, é o vento a imitar-lhe a raiva. Dentro do prédio procura-se calor no que há: caldeiras, fogo, corpos e alimento.
Fujo à questão, não me lembro de qual é a questão. Porque como tanto chocolate? Que parte de mim guarda todo este açúcar e o que fará com ele? É energia de que não preciso, que não gasto em nada que me sirva. Para o gasto da vida chega bem o resto, pouco de tudo, só para acordar outra vez e de novo transportar o corpo para os lugares que já conhece. Levo os dias sem precisar de mapas complicados porque não vou aonde não estive. São dias unidireccionais, sempre em frente, tão atenta ao caminho que nem vejo cruzamentos ou desvios. Uma vida de burro cigano, desfazendo à noite o caminho da manhã, um dia e outro e sempre assim.

Nuno Camarneiro/ Debaixo de algum céu

Abril é o mês do livro e do lançamento da nova obra do Nuno Camarneiro, vencedor do Prémio Leya 2012. O livro lê-se de uma assentada, como quem devora uma caixa de bombons...  

Para 8 a 10 pessoas (José Avillez)
- 250 g de manteiga
- 240 g de chocolate negro
- 180 g de açúcar
- 50 g de farinha
- 6 ovos
- açúcar em pó q.b.

1. Pré-aquece o forno a 180ºC. Unta  com manteiga uma forma redonda grande ou 10 formas de queque.

2. Em lume muito baixo, derrete a manteiga e o chocolate. Separa as claras das gemas. Bate as gemas com o açúcar, até obteres uma massa esbranquiçada. Envolve cuidadosamente o chocolate nas gemas batidas. Junta a farinha e, por fim, as claras batidas em castelo.

3. Deita a mistura na forma, ou nas formas, e leva ao forno durante 35 minutos, no caso de um bolo único, ou 20 minutos, no caso de quereres bolos individuais. Retira do forno e serve morno, polvilhado com açúcar em pó. Acompanha o bolo com uma bola de gelado de nata ou uma pêra em calda de especiarias, para atenuares a culpa de cada colherada.