Há duas estradas que levam ao mercado: a marginal, de onde se vê o mar pelos intervalos de dunas e edifícios, e uma paralela, que atravessa praças e condomínios mal projectados. É por esta que segue Daniel, porque acordou frágil de tanto sonho, porque não está pronto para azuis infinitos.
Na rua conhecem-no e cumprimentam-no com simpatia. As senhoras são gentis e sorriem muito, algumas atrevem-se em piropos, os homens são formais, os velhos levantam as boinas enquanto os jovens inclinam cabeças e sorrisos desconfiados.
Daniel circula por entre as bancas do mercado e escolhe coisas simples e boas. Vive com pouco dinheiro e gosta que assim seja , porque o obriga a escolher e decidir. Toca as cebolas e as laranjas, cheira-as e por vezes as vendedeiras dão-lhe alguma a provar.
Vai até às bancas do peixe e a senhora chama-o lá de longe, ele aproxima-se e ela dá-lhe uma saca com peixe dentro, Chamo-me São, se gostar dos bichos reze pela minha alminha. Ele sorri-lhe e diz-lhe que esteja descansada, se o peixe for fresco não há alma que se não salve.
As mulheres são espertas de viver, pensa Daniel, sempre foram. Deixam aos homens a manutenção do sagrado, os ritos e as palavras com que se fala a Deus, mas é a voz delas que fala na sua, são seus os rogos e graças, só elas Lhe sabem falar a modo.
Nuno Camarneiro/ Debaixo de algum céu
A par do mercado das Caldas, este é o nosso mercado preferido! Nele encontras quase tudo o que precisas para confeccionar maravilhosas refeições de peixe.
A par do mercado das Caldas, este é o nosso mercado preferido! Nele encontras quase tudo o que precisas para confeccionar maravilhosas refeições de peixe.
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