Acho que foi António Lobo Antunes que disse que morremos quando deixamos de ser lembrados pelos outros... No caso do meu avô a melhor forma de o manter vivo é estando no seu quintal. No ano passado começámos a árdua tarefa de limpar o quintal, mas por motivos que não são mais do que desculpas nunca chegámos a terminar. Ontem passei a manhã toda no quintal à procura do Pancinhas, que decidiu pregar-nos um susto. Por momentos até pensámos que alguém o tinha levado durante a noite, para ser servido no Domingo de Páscoa. Ao final da manhã, depois de ter procurado em tudo o que era buracos e recantos lá apareceu o cabrito, vindo do nada. Devo dizer que procurar por ele encheu-me de tristeza, pela angústia de não saber do bicho, não saber se estava bem, se estaria preso nalgum sítio a precisar de ajuda, e por ver o estado de destruição em que a minha casa de infância - outro lugar cheio de histórias - se encontra.
Todos os dias, vindo no seu Fiat 127 verde, o meu avô ia a nossa casa, o seu ponto de passagem para as lides do quintal. Uma delas está bem presente, o sulfatar dos limoeiros. Depois de tirar o boné e de trocar de roupa, colocava a máquina de sulfatar às costas, subia o carreiro até ao topo do quintal e espalhava um líquido que eu achava estranho nos limoeiros. Uns meses
mais tarde os limões eram limpos no pátio da casa velha, para posteriormente serem entregues em alguns
mini-mercados locais, já que nós não conseguíamos dar vazão aos limões
produzidos pelos cinco limoeiros. Destes cinco agora só resta um, que dá
uns limões muito amargos, tal e qual o sabor da perda de alguém com um papel tão importante na nossa vida...
Para 20 a 25 lágrimas
Creme de limão (adaptado de Tartelette)
- 125 ml de sumo de limão
- raspa de 1/2 limão
- 125 g de açúcar
- 1 c. de chá de extracto de baunilha
- 3 ovos
- 2 c. de sopa de manteiga
- 300 g de morangos, arranjados e cortados em quartos (no caso de serem grandes)
- 150 g de açúcar
- 1 folha de gelatina
- 2 claras
- 120 g de açúcar
1. Num tacho pequeno mistura o sumo e a casaca de limão, o açúcar e o extracto de baunilha. Leva ao lume até o açúcar se dissolver. Entretanto bate ligeiramente os ovos. Assim que a mistura de sumo de limão estiver quente, retira do lume e verte um pouco por cima dos ovos, mexendo vigorosamente, para que os ovos não cozam. Junta os ovos à mistura de sumo de limão e devolve o tacho ao lume baixo. Mexe continuamente até a mistura engrossar, sem nunca deixar ferver. Retira a mistura do lume e adiciona a manteiga e envolve-a até que esteja completamente derretida. Passa a mistura por um coador e distribui o creme de limão pelas lágrimas.
2. Amolece a folha de gelatina num copo com água fria. Leva um tacho ao lume com os morangos e o açúcar, até o açúcar se ter dissolvido. Retira do lume e adiciona a folha de gelatina escorrida. Mexe bem e distribui os morangos por cima do creme de limão.
3. Bate as claras em castelo com metade do açúcar. Assim que tiveres as claras montadas, adiciona o restante açúcar e bate as claras até o açúcar estar bem incorporado. Passa o merengue para um saco de pasteleiro e cubra os morangos. Com um maçarico de cozinha queima ligeiramente o merengue. Serve e saboreia o contraste entre o doce e o amargo.
1 comentário:
Que lindas lágrimas, kiss
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