Quando tivemos que pedir o
licenciamento andámos a ver isso e o registo mais antigo que encontrámos foi de
1857. Muitos anos, mais de cento e cinquenta!
Como tem sido a sua história?
Tem sido uma padaria passada de
geração em geração, até à altura em que a comprei ao Sr. Rodrigo, em 1986. Os
meus avós eram padeiros na Rua das Salineiras, e entretanto eu comprei esta
padaria. Para alguns clientes mais antigos ainda é a padaria do Sr. Rodrigo e
agora tenho os meus filhos a trabalhar comigo.
Ainda se lembra como foi o seu primeiro dia de trabalho aqui na
padaria?
Sim, fui-me inteirando das coisas
e do que era preciso na altura. Saber a farinha, o sal, a lenha… O Sr. Rodrigo,
que foi quem me passou a padaria, explicou-me as coisas e foi-me dando umas indicações.
Vê o trabalho na padaria como uma herança familiar ou sente-se
inspirado por ele?
Os meus avós eram padeiros, os
meus pais eram padeiros e eu, por necessidade e para me ir inteirando do ramo,
fui começando a trabalhar na padaria. Depois comecei a tomar gosto e segui
isto. Dou-me feliz por ter uma situação em que posso trabalhar, tendo em conta
que hoje há tanta gente sem trabalho.
A coisa mais difícil da padaria…
(risos) É bom, eles são responsáveis, são bons e foram aprendendo por eles. Tem
sido muito bom.
O que distingue a padaria 5 Bicas das outras padarias da cidade?
Penso que o que distingue é a
qualidade do pão. Hoje em dia é tudo muito comercial, faz-se o pão com
gorduras, com canela… Nós procuramos fazer o pão à moda tradicional. As pessoas
que aqui trabalham também. A Joana é simpática e isso ajuda a cativar os
clientes. Temos um rapaz de São Tomé e Príncipe que é competente, honesto e
trabalhador, que merece ser ajudado. Mas também temos aqui pessoas que podiam
fazer melhor… E temos ainda o forno, que sendo de lenha também ajuda à
qualidade do pão, dá-lhe um sabor mais característico.
Qual é o produto que mais lhe aquece o coração quando vê sair do forno?
Gosto de ver o pão d’avó. Porque
é um pão escuro, de mistura, mais saudável. É, gosto dos pães escuros…
Lembro-me em miúda vir aqui aos éclairs
de chocolate, às escondidas da minha avó e da tristeza que foi, um dia, descobrir
que tinham “desaparecido”. Para quando o seu regresso à padaria?
Não sei, ver se até ao fim do ano
conseguimos.
A que cheira a sua infância?
Aos sabores genuínos, ir à Ponte
Praça e cheirar a maresia. O cheiro das árvores era diferente. Agora os carros
com a gasolina já não deixam que os cheiros se entranhem… No Poço de Santiago o
cheiro a água salgada. Antigamente quando se ia ver os jogos do Beira-Mar sentiam-se
os cheiros do parque, era muito bom. A poluição agora já não deixa que o cheiro
da natureza entre por nós adentro. O progresso é muito destrutivo…
Procurar conservar uma padaria
típica, para não sermos apenas mais uma. Hoje a vida é mais comercial, com
menos qualidade… Queremos uma padaria com qualidade para podermos ser uma
referência na cidade, diferente das outras. Mas não ser diferente apenas por
ser diferente, queremos manter a padaria tradicional para podermos ser
consagrados.
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